Quando Nora Ney gravou “Rock around the clock” em 24 de outubro de 1955, o Brasil entrou de vez na trilha do rock ‘n’ roll. Era o primeiro – e fundamental – passo rumo à modernização da música popular brasileira que, nos anos 60, explodiria nos acordes dissonantes das guitarras da Jovem Guarda.
A hiper-romântica Nora Ney abandonou as boates onde sussurrava lacrimejantes sambas-canções, e botou pra quebrar. Entrou num estúdio carioca, mudou a freqüência das cordas vocais , mandou a rainha da fossa para aquele lugar, respirou fundo, e, One, two, three, four ... disparou: “Rock around the clock... Tonight.”
Era a senha para, enfim, brasileiros em geral mexer as anquinhas ao som do ritmo detonado por Bill Halley e Seus Cometas.
Na abertura do musical Blackboard jungle (No Brasil, Sementes da violência, 1955), o grupo americano havia decretado que as pedras (e os quadris) rolassem.
Conseqüência: um deus-nos-acuda. De New York ao Chuí, os terráqueos nunca se mexeram tanto e em tão pouco tempo. Sambistas e carnavalescos como nós, brasileiros, éramos – e somos -, não tivemos dificuldade em deixar fluir o Elvis que havia dentro de cada um.
E o rock frutificou virou até chanchada – comédias brasileiras que lotavam as matinês de domingo em todo o Brasil.
De vento em popa (1957), com Oscarito travestido de Elvis Presley, incorporando um carioquissimo Melvis Preste, fazendo uma divertida paródia do rei do rock.
Nessa mesma época, o então romântico Cauby Peixoto cismou em trocar de repertório. Se Nora Ney, a rainha da fossa, entrou para a história como a introdutora do rock no país, por que ele, mais jovem e alegre, não poderia virar o rei do rock? Foi o que fez. Mudou o nome para Ron Coby e mandou ver.
Deu em nada: um fracasso. Poucas garotas atreveram-se a comprar o disco em que cantava
Rock and roll em Copacabana (de Miguel Gustavo).
Nem um pouquinho bobo, o artista recuou. Aposentou o lado roqueiro e voltou a cantar clássicos como Conceição.
Cauby Peixoto não foi o único a pegar carona no rock nacional. O afinado Agostinho dos Santos também tentou mudar de rota e foi um pouquinho mais bem-sucedido. Em Janeiro de l957, gravou Até logo jacaré (versão para o hit, “See you later alligator”, de Bill Halley).
E, graças a uma letra ingênua e um jeito bossa nova de cantar entrou para a história como cantor de uma das gemas mais preciosas da pré-história do rock no Brasil.
Nem só de oportunismos ingênuos viveu a pré-história do rock nacional. Houve quem achasse que o ritmo era a saída, ou melhor, a entrada para conquistar um lugar ao sol.
Betinho e seu conjunto – o primeiro conjunto do gênero – foram um desses casos. A bordo de um acordeom, que aparentemente não rimava com rock, o grupo gravou, também em 1957, um compacto. De um lado do disco, ouvia-se Neurastênico.
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