segunda-feira, 20 de abril de 2009

ANOS ELETRICOS


Nos anos 50, diabólicos seres desembarcaram no Brasil.Chegaram do Norte do planeta, foram atacadas pela crítica como “imperialistas”, mas foi impossível resistir-lhes o embalo.E elas ficaram.


A guitarra, um produto praticamente “inventado” pelo rock, já não causa qualquer preocupação e pode se encontrada até mesmo nos discos da chamada música popular de frente.Há anos, no entanto, as coisas não eram exatamente assim: elas evocavam qualquer coisa de diabólico ou sobrenatural, com poderes místicos que obviamente nunca tiveram.
No final da década de 50 e início de 60, o termo guitarra não se bastava a si.Era mais nome de um objeto, um símbolo vivo da rebeldia jovem – tanto musical como existencial.
E, de mais a mais, no obscurantista cenário de certos setores da MPB de então, era o significado preferido a “imperialista” ou o que valha. Não foi à-toa que, quando o programa Jovem Guarda começou, organizou-se até mesmo uma passeata contra a guitarra elétrica. Ou seja, músicos de MPB não tocavam instrumento elétrico, tocava violão.
A entrada da eletricidade no meio da música – uma dessas coisas historicamente inevitáveis, como os automóveis ou as geladeiras – foi teimosamente evitada, o que só acabou definitivamente anos mais tarde, quando Caetano Veloso batia furiosamente os acordes iniciais de “Alegria Alegria”, prometendo, num show no TUCA (em São Paulo), fazer música popular para pessoas de classes sócias de A a Z.
Em 1956, o filme Rock around the clock chegou ao Brasil, com Bill Halley e seus Cometas. Halley usava aquela chuca-chuca ridícula e gozadora no cabelo, deslizando pela testa.
O Cine Roxy, no Rio de Janeiro, e inúmeros outros espalhados por todo o pais, foram virtualmente virados de pernas pro ar.Logo depois apareceu Elvis Presley (em Love me tender, o filme) e Roberto Carlos assistiu um das apresentações.
- Eu sentia uma alegria, vontade de cantar e principalmente de dançar. As guitarras coloridas também me impressionaram muito.
As guitarras elétricas, a bem da verdade, ainda não haviam desembarcado no Brasil. Na época da turma da rua Matoso o jeito era balançar ao som de violões Roberto Carlos relembra que “no violão”, o pessoal tinha descoberto uma batida que dava um certo efeito, um som bem metálico, de guitarra mesmo.
Os violões disfarçados de guitarra, no entanto, logo seriam abandonados.Conjuntos paulistas com The Clevers e The Jet Black já estavam importando aparelhagem – amplificadores, guitarra e contrabaixos elétricos – dos Estados Unidos. E, pouco antes
da Jovem Guarda, Roberto Carlos já tinha a sua primeira guitarra, foi uma Giannini, que logo seria trocada por instrumentos mais sofisticados.
Na Jovem Guarda teve uma Fender, que foi de Johnny Holliday, uma Rickembaker e ainda uma Gibson. Gostava muito da Rickembacker, mas não era por causa do som.Era porque John Lennon tinha uma igual...


Com quantos paus se faz uma canoa? No caso do rock, o primeiro “professor” de Erasmo Carlos, Tim Maia, dizia que com apenas três: lá maior, ré menor e mi maior.Isso em outros tempos, claro, e basta um rápido olhar sobre a produção musical de Roberto e Erasmo Carlos para perceber a clara evolução da técnica e harmonia. O papel maior, no entanto, segundo Erasmo, fica para as letras.
Erasmo usa, para compor sozinho ou com Roberto, um violão Di Giorgio. Tem também um Guild elétrico, presente de Roberto.Além desses, a guitarra Gretsch, modelo Viscount, comprada em 1966, um piano Niendorf (ganhou de Narinha) e, finalmente, um órgão Farfisa de 66 e uma bateria elétrica Yamaha.E pra completar o mais recente, um violão Ovation.
Três acordes ou três mil acordes, não importa.Quantos sons, quantas diferentes tonalidades cabem em três simples acordes?

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